domingo, 8 de julho de 2012

Jorge Polman ( 1927 - 1986 )

25 anos sem Jorge Polman



Que o esteio, a espinha dorsal de qualquer associação seja um programa rotineiro de observação, que seja observação de Variáveis; do Sol; Ocultações; Planetas; Lua; não importa o quê. Mas que haja uma rotina, uma especialização que resulte em OBSERVAR, OBSERVAR, SEMPRE OBSERVAR
Jorge Polman
No dia 2 de junho de 1986, com 59 anos de idade falecia Johannes Michael Antonius Polman, Pe. Jorge Polman.Polman nasceu em 7 de janeiro de 1927 em Amsterdam, Holanda. Viveu, portanto 59 anos, tempo demasiadamente curto para quem ainda tinha tanto a contribuir com a ciência astronômica e como servo de Deus. Polman chegou ao Brasil em 1952. Ordenou-se sacerdote no dia 1º de dezembro de 1957 no então Seminário Menor da Várzea no Recife/PE. No início de 1970 ingressou no Colégio São João, na Várzea, trazendo consigo um telescópio de 4 polegadas, que seria a pedra fundamental para a criação do Clube Estudantil de Astronomia, CEA. Sem ele o CEA não existiria. Com a criação do Clube seguiram-se uma série de atividades práticas, cursos, palestras e observação do céu.
Polman tinha também um invulgar espírito criativo. Em 1977 ele desenvolveu um micrômetro bifilar que foi até motivo para uma reportagem na revista Sky and Telescope, Maio de 1977, páginas 391 a 393. Polman esteve presente em vários congressos no país e no exterior. Em um deles, estivemos juntos em Montevideu, Uruguai. Veio a Campinas para observar nosso trabalho no Observatório Municipal e tive o privilégio de hospedá-lo em minha residência. Nutríamos uma grande amizade e identidade de pensamento. Polman deixou uma semente que germinou, cresceu e deu bons frutos para a astronomia não só de Pernambuco mas de todo Brasil. Sua meta “o céu como limite” ficou conhecida por todos nós que o admirávamos. A partir de 2011 seu nome está perpetuado em Campinas/SP, no Observatório Astronômico Pe. Jorge Polman do Colégio Sagrado Coração de Jesus dirigido pelo colega Julio César F. Lobo. A ele aplicamos o pensamento de Goethe : “Maior que a influência atribuída às estrelas, a que a memória dos homens bons exerce sobre nossa vida, nosso caráter, nosso destino”. Polman, sacerdote de Deus e de Urânia.





Luiz Eduardo da Silva Machado (1927 – 1992)





    Há vinte anos, em 13 de julho de 1992, às 19h00, Urânia abriu os braços para acolher um de seus mais diletos filhos: Dr. Luiz Eduardo da Silva Machado, nascido no Rio de Janeiro em 11 de outubro de 1927. Sentiu-se mal em plena sala de aula sendo levado às pressas para o hospital, vítima de um derrame cerebral. Passados 20 anos, sua ausência deixa uma grande lacuna em todos nós que o admirávamos como colega, amigo e profissional competente. Sua presença sempre jovial e alegre, permanece como um traço marcante de sua personalidade. É toda uma geração que pouco a pouco se dilui na marcha irreversível do tempo. Machado estampava um dinamismo invejável e só mesmo uma fatalidade poderia interromper sua vida material. Da Terra para o céu, seu nome está imortalizado no asteroide 2.543 descoberto no Observatório Europeu Austral no Chile em 1º/06/1980 pelo astrônomo belga H. Debehogne.

C A R R E I R A

    Machado bacharelou-se em física pela Faculdade de Filosofia da UFRJ (ex. U.B.) em 1948 e 1949. Astrônomo do Observatório Nacional do Rio de Janeiro, deixou essa Instituição em 1961 para criar na UFRJ o primeiro curso de formação de astrônomo no Brasil. Doutorou-se em 1970 pelo Instituto de Ciências da UFRJ. Em 1978 defendeu tese para o concurso de professor titular, cargo que ocupou até seu falecimento. Foi diretor do Observatório do Valongo – UFRJ, de 1967 a 1986. Escreveu: “Das Ocultações Rasantes de Estrelas pela Lua” (1969) e “Ao Encontro do Cometa Halley” (1985).

C O N T R I B U I Ç Õ E S

    Machado foi o grande artífice na reforma do Observatório do Valongo-UFRJ. Isto exigiu um esforço gigantesco, pois o Observatório se encontrava abandonado há décadas, em péssimo estado de conservação.



    O Valongo foi fundado em 5 de julho de 1881 como Observatório Astronômico da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Posteriormente passou a órgão suplementar do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza da UFRJ. Junto  a devotados colegas como Sergio Menge de Freitas, Edgar Rangel Neto, Luiz Augusto, Paulo Manzo, José Felipe Caldeira, José Augusto B. de Nazareth, José Adopho Snajdauf, Fernando Vieira e Rundsthen V. de Nader, reergueu o Observatório, modernizou-o e obteve o reconhecimento para a implantação na UFRJ, do primeiro curso de Astronomia no Brasil a nível de Pós-Graduação. Graças as atividades educacionais e de pesquisa do Valongo, é agraciado durante o Governo Militar com valioso instrumental da firma alemã Carl Zeiss Jena. Entre outros cumpre destacar o Astrógrafo 400/2000 mm (o maior do País), dois Telescópios ‘cassegrain’ de 500 e 600 mm de abertura, um Celostato, um Telescópio ‘cassegrain’ de menisco com 150 mm de abertura, um Coordenatógrafo, um Astro-Espectrógrafo de Rede, um Microdensitômetro e um Telescópio Refrator Coudé de 150 mm .

O    G R A N D E     P R O J E T O

    Infelizmente o grande projeto para instalar esses equipamentos em um observatório de montanha não pode ser concretizado e a saída foi estabelecer um convênio com a Prefeitura Municipal de Campinas, SP, a Unicamp , a PUCC, e a Sociedade Civil Observatório do Capricórnio com a interveniência do CEDATE-MEC, para instalação do  Astrógrafo,  do ‘cassegrain’ de 500 mm  e do “meniscas’ de 150 mm no Observatório Municipal de Campinas a 1100 metros de altitude. A Prefeitura de Campinas assumiu a construção de três prédios para abrigar esses instrumentos. Infelizmente  por falta de recursos financeiros ,  o refletor ‘cassegrain’ de 600 mm acabou sendo transferido para o Laboratório Nacional de Astronomia, LNA, em Brasópolis,MG.  A partir de 1985 e enquanto perdurou o convênio, pesquisadores e alunos do Valongo puderam encetar trabalhos na área de asteroides, cometas e obtenção de espectrogramas da várias estrelas. Uma outra atividade  que merece destaque foi o de ocultações rasantes de estrelas pela Lua. Várias expedições foram realizadas em território nacional. Machado era um grande entusiasta desta área e isto pude verificar  pessoalmente quando participei de uma dessas expedições na cidade mineira de Santos Dumont. Cumpre destacar a sua indicação para fazer parte da Comissão 20 reunida na 19ª Assembléia Geral da IAU, em Nova Dehli, India, a qual Machado infelizmente,   por falta de suporte financeiro  do Governo, não pode comparecer.

O    C I D A D Ã O

    Conheci o prof. Machado desde os primeiros anos do Valongo. Muito do que aprendi devo a ele. Aliás, essa era uma característica de sua personalidade: valorizar o trabalho dos astrônomos amadores. Era às vezes criticado por assumir essa postura, coisa que jamais se importou. Flammarion era um de seus mestres e isto dizia por si. Conhecia como poucos a vida e obra do ‘Mestre de Juvisy’ como também do Pai da Aviação, Alberto Santos Dumont. Estivemos juntos em vários congressos a partir daquele memorável da LIADA em janeiro de 1967 em Natal, RGN. A última vez que nos vimos foi em janeiro de 1991 em Fortaleza, Ceará, no IIº Encontro Nacional de Astronomia, ENAST. Como de um modo geral, a música é sempre parte da vida do astrônomo, Machado não fugia à regra. Nossas conversas sempre giravam sobre o assunto e para ele a música assumia um caráter especial. Sua dedicada esposa, professora Maria Célia Machado, é uma virtuose da harpa, com invejável currículo, atuação na Orquestra do Teatro Municipal de Rio de Janeiro além de professora no Conservatório de Música desta cidade. Sua filha esteve casada com o consagrado tenor Nelson Portela. Por duas vezes  fui seu convidado para assistir duas óperas no Rio : ‘Tristão e Isolda’ de R. Wagner e ‘Don Giovanni’ de W. A. Mozart, esta última com participação do Nelson Portela. Sua ausência deixa, pois, uma grande lacuna em todos nós, colegas e amigos. Se teve defeitos (quem não os tem?) suas virtudes e obras as superam em muito. Ao completar 20 anos do seu desenlace, nada mais justo que  reverenciemos sua memória e a grande contribuição prestada a ciência do céu.
O autor é astrônomo responsável pelos observatórios municipais de Americana e Piracicaba, SP, e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

Astronomia Brasileira está de Luto, N.Travnik, julho 1992
Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, Ronaldo R. F. Mourão, Editora Nova Fronteira, 2ª edição                                                       

Jean Nicolini (1922-1991)



                                                                                    
Seu nome está perpetuado no Observatório Municipal de Campinas, SP, na rodovia Americana-Nova Odessa, SP, no Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, 2ª edição, editora Nova Fronteira, de Ronaldo R. de Freitas Mourão e na galeria dos laureados pela Sociedade Astronômica da França.

F I L I A Ç Ã O

Jean nasceu em São Paulo, capital, a 9 de abril de 1922 e faleceu no dia 23 de julho de 1991 por volta das 13h30, quando seu Volkswagen bateu violentamente na mureta de concreto de um viaduto na cidade de Americana,SP. Foi um duro golpe para todos nós  pois, apesar dos seus 69 anos, gozava de excelente saúde e  disposição, ainda apto a desenvolver relevantes serviços em ambos observatórios onde trabalhava (Campinas e Americana). Jean está sepultado no Cemitério do Sub-Distrito de Souzas. Era filho de Noel Nicolini e Jeanne Cabrit, ambos de origem francesa, o que vem explicar sua identidade com a França. Sua devoção a astronomia aconteceu com a leitura dos livros de Camille Flammarion (1842-1925),  o ‘Poeta do Céu”, o “Mestre de Juvisy”.

UMA  VIDA  DEDICADA  A  ASTRONOMIA

Leitor voraz de história antiga e arqueologia, amante da música erudita principalmente barroca, astronomia era contudo a razão de sua existência, o Sol que banhava sua fronte. Em 15 de outubro de 1948 com 26 anos fundava em São Paulo, na Vila Olímpia o seu Observatório do Capricórnio. Mais tarde ele seria transferido para Atibaia e por fim incorporado por convênio ao Observatório Municipal de Campinas, inaugurado em 15 de janeiro de 1977. Graças ao Jean fui convidado com o endosso do prefeito Lauro P. Gonçalves, amador de astronomia, a compor a equipe do Observatório na ocasião, o primeiro observatório municipal do Brasil.

PRODUÇÃO CIENTÍFICA - HOMENAGENS

Por suas observações dos planetas Vênus e Marte, foi laureado pela Sociedade Astronômica da França, SAF, com o “Premio George Bidault d’ Isle”, consistindo de uma medalha de prata entregue em sessão solene no auditório do Planetário do Ibirapuera, SP, pelo astrônomo francês Delhave. Participou como membro ativo das SAF, ALPO, BAA, AAVSO,  LIADA, LIAA, UBA, SBS, E SIP e colaborou com o Observatório de Meudon, França, no Deptº de Phisique des Surfaces Planetaires, na determinação do período de rotação de Vênus. Participou do “International Mars Comitee” em 1954 para elaboração do mapa meteorológico de Marte. Desde 1961 até 1991 foi “Standard Observer” pela AAVSO. Foi observador credenciado pela NASA-JPL e o Smithsonian Institution no projeto LION, coordenado no Brasil pelo astrônomo Ronaldo R. F. Mourão, para observação dos chamados TLPs (Transiente Lunar Phenomena). Das suas quatro observações de TLPs merece destaque a realizada por ocasião da Missão Apollo 13 na cratera Censorinus e que foi uma das três mais importantes feitas por astrônomos brasileiros.
Observou o Sol sistematicamente por mais de 40 anos. Suas observações propiciaram um precioso banco de dados de que serviram seus colegas Julio C. Penereiro e Walter Maluf para realizar a excelente publicação “50 Anos de Observação Solar”, apresentada em dois ENAST (Rio e São Paulo).


publicou dois livros : Marte, o Planeta do Mistério e Manual do Astrônomo Amador, editora Papirus de Campinas,SP, este último ainda hoje uma referência para os astrônomos amadores. Desempenhou inúmeros cargos em associações astronômicas do País e exterior.

UM  GRANDE  INCENTIVADOR

Jean foi co-fundador da Associação de Amadores de Astronomia de São Paulo, AAA, (1949), da Sociedade Interplanetária Brasileira, SIB (1952),  da Sociedade Brasileira de Selenografia, SBS, (1956) e da União Brasileira de Astronomia, UBA, (1970). Entre seus maiores colaboradores destacavam-se Rubens de Azevedo, Romulo Argentiere, Frederico Funari, Paulo Gonçalves, Orlando Zambardino, Francisco Jehova e Norberto Parada. Graças ao seu conhecimento e atenção  com todas as pessoas que o procuravam, despertou inúmeras vocações. Nunca deixava de responder uma carta. Uma dos mais profícuos relacionamentos foi aquele  que motivou o físico Rogério Marcon  da UNICAMP a se dedicar a heliofísica tornando um dos maiores pesquisadores brasileiros nessa área. Marcon criou mais tarde o seu Observatório Solar Bernard Lyot dedicado a memória de Jean. Seu maior sonho, um celóstato foi concretizado quando recebeu a doação desse instrumento por seu colega de Belo Horizonte, astrônomo Ernesto Reisenhofer, fundador do Observatório Kappa Crucis. Posteriormente o celostato recebeu ampliação e modernização feita pelo fiel discípulo  R. Marcon e seu pai de saudosa memória. Jean soube como poucos honrar com seus trabalhos  científicos e pedagógicos a ciência  astronômica. Seu nome continua sendo uma referência e um exemplo para todos os discípulos de Urânia. Dizem que ao lado de um grande homem está uma grande mulher. Jean era casado com Áurea Nicolini, esposa devotada e fiel colaboradora. Teve dois filhos : Ulisses (já falecido) e Leonardo.

Rubens de Azevedo ( 1921 - 2008)



Naquela tarde de 17 de janeiro de 2008, cerca das 18h00 em Fortaleza,Ce, a astronomia nacional perdia uma de suas figuras mais expressivas : Rubens de Azevedo, geógrafo, astrônomo amador, escritor, jornalista, artista plástico e poeta. Tantas qualidades em uma só pessoa. Rubens nasceu em Fortaleza,Ce, no dia 30 de outubro de 1921, filho do pintor e poeta Otacílio de Azevedo. Ainda na infância e adolescência, um amigo costumava emprestar-lhe a coleção “Tesouros da Juventude” e a partir dele Rubens correu atrás de saber o que havia além das estrelas.

PRIMEIROS PASSOS

   Mais tarde como ele dizia, por questão de pobreza, pois sua luneta era pouco potente, passou a observar e estudar a Lua. Foi o primeiro passo para reunir interessados e fundar em 1947 a Sociedade Brasileira dos Amigos da Astronomia, SBAA, a primeira no Brasil e que serviu de estímulo para a criação de várias outras sociedades no País. No teto de sua casa construiu o Observatório Camille Flammarion onde realizou notáveis desenhos do cometa 1948 L. Já nesta época, auxiliado por um amigo, publicava o boletim ‘Zodíaco’ que retornaria mais tarde quando voltou a fixar residência em Fortaleza. Em 1949 conheceu aquela que seria sua esposa, colaboradora e fiel companheira em todos os momentos, Jandira Carvalho de Azevedo, escritora, jornalista e poetisa. É desta época o livro ‘Uma Viagem Sideral’ e um mapa da Lua, único no País com 80 cm de diâmetro cuja cópia pode ser encontrada no Museu do Eclipse em Sobral, Ce. Em 1951 Rubens foi diplomado em Geografia e História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Ceará.

EM SÃO PAULO

   Ainda em 1951, convencido pelo renomado físico Romulo Argentiére, Rubens arrumou as malas e mudou-se para São Paulo. Nesta cidade pode melhorar seus estudos e encontrar pessoas como Jean Nicolini, Sakahrov, Frederico Funari e Zambardini entre outros. Esses contatos foram extremamente importantes na vida de Rubens e sua esposa. Fundou a Sociedade Brasileira de Selenografia. Publicou os livros : ‘O Desenho sem Mestre’ (1954), ‘Selene – A Lua ao Alcance de Todos’ (1959), ‘Lua, Degrau para o Infinito’ e ‘Na Era da Astronáutica’ (1962). Em São Paulo, Rubens colaborou com vários artigos na imprensa e em outros livros como o ‘Atlas Geográfico’ e o ‘Novo Dicionário’ da editora Melhoramentos e a ‘Geologia Aplicada a Selenografia’ na revista da Escola de Minas de Ouro Preto, MG, VOL. 31. Rubens mantinha a esta época contato com os renomados selenógrafos Patrick Moore e Percy Wilkins. Certa vez Wilkins solicitou a Rubens a observação de uma cratera para confirmar uma serie de coisas, ciente de sua aptidão para o desenho. Não dispondo de um instrumento potente, através do seu colega Flávio A. Pereira, solicitou o uso ao IAG-USP da luneta Zeiss de 175mm para poder fazer o desenho da cratera solicitada por Wilkins. A resposta foi que não queriam nenhum amador por lá! Isto já sendo Rubens respeitado e admirado em muitos países. Em 9 de janeiro de 1963, ao observar a Lua, avistou um acidente na região de Grimaldi a quem chamou Vale Brasilienses. Astrônomos amadores no Chile disseram ter observado o vale e até propuseram batizá-lo como Vale Azevedo o que Rubens não concordou. De difícil observação, existe dúvida quanto a definição exata do acidente e para isso consultei um expert em observações lunares, Prof. Vaz Tolentino do Observatório Lunar de Belo Horizonte,MG. Segundo ele que utilizou telescópio e câmera CCD com altíssima resolução, o Vale Brasiliensesexiste e se encontra em uma fotografia feita por ele em 20/12/2010 e relata : “uma escarpa (rupes) de cor branca e desenho curvo, que parte da cratera Grimaldi A (do lado oeste de Grimaldi), encontra uma cadeia reta de montanhas que parte da borda de Grimaldi com orientação sudoeste, criando assim um vale entre as duas formações”. E acrescenta : O Vale se afunila na direção sudoeste onde, no final do ‘funil’ inicia-se um canal (rille) longitudinal muito fino , que transpõe transversalmente algumas cadeias de montanhas ao longo do seu caminhamento até “afinar” tanto que desaparece nas montanhas seguintes antes de atingir o limbo lunar”. Já o astrônomo Nelson Falsarella de S. J. do Rio Preto,SP, atualmente o maior expert brasileiro em observações do planeta Marte, observando a região em várias oportunidades com seu telescópio refletor newtoniano de 200 mm e munido de uma videocâmera CCD, observa que não há uma definição exata sobre o acidente. Para ele, Rubens parece ter confundido o acidente com uma sucessão de crateras, com uma raia ou com um canal. Falsarella tece uma série de considerações apoiado em desenhos e fotos feitos por ele, 5 desenhos feitos por Rubens e imagens da sonda americana Galileo quando de sua passagem pela Terra em 8/12/1990 bem como das feitas pela Lunar Orbiter 4 em maio de 1967. Essas considerações feitas por esses exímios observadores mostra que o assunto ainda requer mais observações e isto é realmente fascinante.

NO RIO GRANDE DO NORTE

   Em 1966 arrumou novamente as malas e foi residir em Natal, RGN e lá junto a Associação Norte-Riograndense de Astronomia, ANRA, presidida pelo Dr. Antônio Soares Filho, foi a mola mestra para a realização em 1967 do VI° Congresso da Liga Latino Americana de Astronomia, LIADA. Os meios colocados à disposição pelo Governador do Estado, Monsenhor W. Gurgel e a Marinha do Brasil foi de tal envergadura que nunca mais se viu algo parecido até os dias de hoje. Foi nessa ocasião meu primeiro contato com Rubens.

NA PARAIBA

    Mais parecendo um astrônomo cigano, a seguir Rubens foi residir em João Pessoa, Pb. Lá conseguiu a construção do Observatório da Paraiba na Fundação Padre Ibiapina e a realização do Primeiro Encontro Nacional de Astronomia, ENAST em julho de 1970. Em 1969 publicou o livro ‘No Mundo da Estelândia’. A presença de Rubens em João Pessoa foi decisiva para a implantação mais tarde do Planetário Carl Zeiss Spacemaster que seria inaugurado em 18/06/1982 no Espaço Cultural José Lins do Rego, doado pelo então CEDATE-MEC. Ainda em João Pessoa, face a sua notória e reconhecida experiência na observação lunar, foi indicado pelo Dr. Ronaldo R. de Freitas Mourão do Observatório Nacional, CNPq-MST, para fazer parte da equipe inicial de cinco astrônomos que iria colaborar com observações no Projeto Apollo da NASA-JPL-Smithsonian Institution, denominado ‘Lunar International Observers Network’, LION. Do programa constavam observações dos chamados TLP’s , Transiente Lunar Phenomena. A partir daí observadores devidamente treinados de várias instituições, a maioria astrônomos amadores, viram-se incorporados ao Programa LION. Durante o Programa, o Brasil colaborou com 63 observações de TLP’s por 23 observadores. Nesta época Rubens realizou uma importante constatação de brilho incomum na cratera Aristarco, confirmada pelo astronauta Edwin Aldrin. Graças a Rubens, a Universidade do Sertão de João Pessoa em 1972 publicou relatório completo das observações realizadas no Brasil, solicitadas a mim pelo coordenador do Programa LION no Brasil, Dr. Ronaldo R. F. Mourão. Mourão me solicitou que selecionasse as três observações de TLP’s mais importantes o que fiz e que consta deste relatório. Este relatório está á disposição dos interessados através do e-mail : nelson-travnik@hotmail.com. Em João Pessoa Rubens foi membro do Instituto de Genealogia e Heráldica, membro fundador e presidente da União Brasileira de Astronomia, diretor da Casa de Cultura Raimundo Sela e diretor do Observatório da Paraiba.

RETORNANDO A FORTALEZA

   Foi professor e coordenador do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual do Ceará, fundou o Observatório Oto de Alencar na Universidade Estadual do Ceará e a União Brasileira de Astronomia, UBA sendo eleito seu primeiro presidente. Nesta época publicou ‘O Cometa Halley’ (1985), ‘A Bandeira Nacional’ (1988) , ‘O Homem Descobre o Mundo’ (1989) e ‘Memória de uma Caçador de Estrelas’ (1996),autobiografia. Juntamente com o Prof. Demerval C. Neto, amigo e companheiro, incentivou a ciência do céu a tal ponto de sensibilizar a direção de dois colégios, Christus e Sete de Setembro, a erigirem observatório em suas unidades e promoverem cursos de astronomia. Devido a seus artigos na imprensa, persistência, contatos inclusive políticos feitos com seu amigo Demerval, junto ao prefeito de Fortaleza e o Governador do Estado, é inaugurado no dia 26 de fevereiro de 1997, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, na Praia de Iracema, o ‘Planetário Rubens de Azevedo’ contando com um projetor Carl Zeiss ZKP-3. O nome dado por proposição do Prof. Demerval e aprovado pela Prefeitura, a uma pessoa ainda viva, fato incomum, é um eloquente atestado do prestigio, conceito e admiração não só do cearense mas de toda a comunidade astronômica nacional a quem muito fez pela astronomia . Seu nome consta do Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica de Ronaldo R.F. Mourão por sinal, um de seus admiradores. De temperamento alegre e jovial, os que conviveram com ele guardam para sempre momentos inesquecíveis. Desde o falecimento da esposa “O Maior Amor” como intitulou em um dos capítulos de sua autobiografia, sua saúde começou a declinar sensivelmente vindo a falecer em 17 de fevereiro de 2008 aos 87 anos de idade. Várias homenagens lhe foram prestadas entre elas a que fizemos em Piracicaba,SP, colocando no ‘roll-off’ do Observatório Astronômico o nome de “Pavilhão Rubens de Azevedo”.